Inteligência artificial vs designers: o futuro do design gráfico

Nas últimas décadas, assistimos a inúmeros “booms” a nível tecnológico, de que são exemplo a evolução da Internet e dos telemóveis.

De conceitos-base simples, rapidamente se evoluiu para ferramentas que usamos diariamente e, das quais se pode considerar, que nos tornámos dependentes, tanto a nível pessoal, como profissional.

 

Algo que esta rápida evolução também nos permitiu perceber foi que nem todos tiveram a mesma capacidade e facilidade de adaptação, o que levou a grandes impactos e alterações na sociedade e, consequentemente, em diversas áreas de trabalho.

 

O mesmo está prestes a acontecer com a evolução da Inteligência Artificial. Uma realidade que, durante muito tempo, pareceu distante ou até impossível, está hoje a ser, gradualmente, inserida nas nossas vidas em todos os aspetos.

 

Assim, logicamente, muitos setores estão prestes a sofrer grandes alterações e várias profissões podem mesmo ficar em risco.

 

No design gráfico, isso não é exceção, o que levanta questões como: “Será que os designers vão conseguir acompanhar estas novas evoluções?”; “Irão estes e a própria indústria tornar-se obsoletos?”.

 

Para conseguirmos responder a essas questões e podemos, de certa forma, entender de que forma a inteligência artificial pode afetar o setor do design gráfico, vamos perceber melhor no que é que a inteligência artificial consiste.

O que é inteligência artificial?

Certamente que todos nós já ouvimos falar deste tema e a verdade é que o próprio termo – inteligência artificial – é bastante explícito.

 

A “inteligência” é uma forma de pensar, que engloba todas as características intelectuais, ou seja, a interpretação, a compreensão, a lógica, a memória, o pensamento e a capacidade de aprender.

 

“Artificial” remete-nos para o que não é natural. Ou seja, é desenvolvida e criada por humanos.

 

Assim, com a inteligência artificial, procura-se replicar a forma de pensar das pessoas, em dispositivos eletrónicos, para que estes possam, assim como nós, usar a lógica e ter a sua própria perceção, entendimento e interpretação das situações, levando a resultados semelhantes aos conseguidos pelas pessoas. No entanto, a inteligência artificial não tem limites, ao contrário do cérebro humano.

 

Como funciona a inteligência artificial?

A inteligência artificial procura replicar o nosso pensamento. Na teoria, isso é fácil de compreender, mas, na prática, pode tornar-se um pouco mais complicado. Mas como isso é possível?

 

Não há limites para a inteligência artificial. Por esse motivo, este tópico torna-se complicado de responder. Mas, como tudo, tem um ponto de partida.

 

Hardware e software – dois termos que também já fazem parte do nosso dia a dia e que vão descomplicar a forma como funciona a inteligência artificial.

 

Num computador, por exemplo, o hardware é a parte correspondente ao físico do computador, que faz com que o computador se ligue. Já o software é a parte lógica do produto, que engloba os programas e aplicações, permitindo que o computador funcione. Ambos dependem um do outro.

 

A inteligência artificial incide sobre o software, pois a base do seu funcionamento é a lógica. Através de regras complexas e de variáveis criadas previamente, este software consegue, consoante a situação, analisar e combinar informações necessárias, de forma a dar a resposta precisa e resolver o problema apresentado.

 

Além disso, a inteligência artificial já tem a capacidade de aprender sozinha a dar respostas a situações e problemas para os quais não foram inicialmente programadas. Isto é possível através da análise dos seus próprios dados, tal como uma pessoa consegue, através da vivência de certas situações, aprender a dar respostas que antes não sabia. A isto se chama machine learning.

 

Como pode a inteligência artificial influenciar o design gráfico?

O design gráfico e qualquer área do design são subjetivos. Para algo ser considerado um “bom design” precisa, primeiro, de funcionar. Isto é, tem de cumprir uma série de requisitos específicos, como, por exemplo, passar a informação e o propósito da forma mais adequada ou ser direcionado para um público-alvo definido.

 

Esse resultado é conseguido através de escolhas, como o tipo de fonte, as cores, as formas, os layouts, entre outros.

 

Apesar de o design gráfico ser mais complexo do que isto, a lógica inicial é esta.

 

Tendo em conta os pontos anteriores, podemos constatar que é uma lógica que se conseguia explorar através da inteligência artificial. Ou seja, posso “dizer” a um software de inteligência artificial que procuro uma identidade visual para uma marca em que preencho cada um desses requisitos (cores, fontes, público, objetivo, entre outros) e, em poucos segundos, o software apresenta, não uma, mas centenas de opções que cumprem (na teoria e nos dados que o programa conhece) os objetivos definidos nesse briefing.

 

O que a inteligência artificial ainda não consegue cumprir é o “toque humano”, uma vez que, apesar de ser uma ferramenta criada para funcionar de forma parecida à mente humana, ainda não tem a capacidade de entender fatores, como, por exemplo, a personalidade de uma marca, detalhes específicos que o cliente procura, significados subentendidos, certos estilos gráficos, entre outros.

 

Estes aspetos devem funcionar em conjunto, mas, atualmente, a inteligência artificial não tem a capacidade de os diferenciar, nem de se adaptar a nuances culturais, entre outros aspetos, que o ser humano tem a vantagem de conseguir entender.

Exemplos de ferramentas de inteligência artificial na área do design gráfico

Sendo o design gráfico uma área em que a lógica de funcionamento da inteligência artificial é fácil de aplicar, já existe no mercado uma oferta de vários softwares que permitem dar resposta a todos os aspetos que o designer tem em conta na realização do seu trabalho.

 

Desde programas de criação de paletas cromáticas e fontes geradas 100% através da inteligência artificial, à criação total de identidades visuais,  existem ferramentas como:

 

Khroma e Colormind, capazes de criar inúmeras paletas cromáticas com base nas cores que o utilizador sugere e, utilizando o seu conhecimento de estilos de cores a nível do cinema, de fotografias e de imagens.

 

Designs.ai e Picsart são aplicações que permitem a criação de logótipos e identidades visuais através do preenchimento de uma breve lista de categorias apresentadas pela aplicação.

E, por fim, o DALL·E 2, um novo sistema no mercado, que permite a criação de imagens realistas através de uma breve descrição do resultado que se procura.

 

Além destas ferramentas que apresentamos como exemplo, existem muitas mais, que procuram dar resposta em todas as áreas necessárias. Todas estas ferramentas encontram-se em evolução e espera-se que cada vez mais os resultados delas sejam mais exatos.

Qual o futuro do design gráfico?

Será que a procura de designers gráficos vai acabar? Pode o futuro do design gráfico ser regido pela inteligência artificial e não pelos designers gráficos? São as questões que mais frequentemente estão a ser colocadas pelos profissionais da área.

 

Essas preocupações são cada vez mais válidas, tendo em conta a evolução exponencial da inteligência artificial na área criativa.


A verdade é que os limites do conhecimento que o ser humano possui, assim como o tempo que demora a criar projetos, não são um problema para a inteligência artificial, que consegue reter informações ilimitadas e, numa questão de segundos, analisar toda essa informação e oferecer um leque de opções para o cliente escolher.

 

No entanto, há ainda muitos aspetos a que a inteligência artificial não consegue dar resposta, da mesma forma que um ser humano, que vê as coisas de uma forma mais sensível e da perspetiva do utilizador, por exemplo.

 

Deste modo, o mais provável é que o design gráfico continue a ser necessário, independentemente da presença de softwares de inteligência artificial no mercado.

 

Importa, porém, que os designers gráficos tenham a capacidade de tirar proveito dos pontos positivos destes softwares, utilizando-os de forma a potenciar a eficácia e eficiência do seu trabalho.

 

Assim como o surgimento de programas como o Photoshop que obrigaram a uma adaptação da forma e do método de trabalho dos designers, o mesmo vai acontecer com as novas ferramentas de inteligência artificial.

 

O “fim” dos designers gráficos está, por enquanto, dependente da capacidade de adaptação destes às novas funcionalidades no mercado e da capacidade de explorarem novas formas de realizarem o seu trabalho.

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